Edição do dia 09/12/2012 - Atualizado em 09/12/2012 20h57
Empresário é acusado de promover ataques contra própria empresa para esconder desvios
Azael Manzoni Júnior ficou 30 dias preso e responde por roubo, incêndio, ameaça, lesão corporal, constrangimento ilegal, receptação, disparo de arma de fogo e formação de quadrilha.
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Esta reportagem parece um roteiro de
filme policial, mas aconteceu mesmo, no interior de São Paulo. Uma sequência de
crimes misteriosos, contra funcionários de uma mesma empresa.
intimidações, roubos violentos, incêndios e até um buquê de flores com ameaças de morte! Quem estaria por trás desses atentados?
Um assalto com reféns, um incêndio, uma mulher sequestrada e todo o tipo de ameaça, incluindo um bilhete assustador enviado com um buquê de flores. O cenário de todos esses crimes é uma indústria de rações na cidade de Campinas, a 93 quilômetros de São Paulo.
“Cada uma das ações foi minuciosamente planejada”, afirma o promotor Amauri Silveira Filho.
O primeiro crime aconteceu em setembro do ano passado. Um funcionário responsável pelo setor financeiro foi rendido no portão da fábrica. Os assaltantes entraram e levaram um computador, 13 celulares e documentos.
Dias depois, uma funcionária, também da área financeira, recebeu no trabalho um buquê de flores com um CD. Nele, encontrou imagens de mulheres mortas, uma foto com os documentos levados no roubo anterior e um bilhete que dizia: “Você vai ficar assim! Você vai morrer!”. Assustada, ela pediu demissão.
Três meses depois, mais um crime: um responsável pela contabilidade foi atacado no carro. O assaltante levou apenas as chaves.
O grupo acusado de cometer os crimes se reunia em um bairro de Campinas. Lá, eles escolhiam o alvo e planejavam com antecedência cada detalhe dos ataques.
No Natal, três homens entraram na sede da empresa durante a madrugada. Em poucos minutos, um deles volta correndo em direção ao portão. Dois segundos depois, as chamas. E do lado de fora, os três homens fogem. O fogo consumiu móveis e computadores. Nada foi roubado.
No começo do ano, um funcionário que já tinha sido vítima de um roubo na empresa foi abordado em casa por dois homens. Eles fizeram ameaças e levaram uma pasta com cheques da indústria, dinheiro e um telefone.
No dia seguinte, dois homens entraram na casa de outro empregado. Um vizinho chamou a polícia e eles foram embora, mas voltaram dois dias depois e fizeram ameaças pelo interfone. Disseram que ele seria assassinado se continuasse na empresa. Deram vários tiros nos carros que estavam na garagem. Ele também pediu demissão.
O advogado de um dos sócios diz que o clima na empresa era de medo. “O meu cliente ficou efetivamente muito apavorado, passou até por mudanças de trajetos, de rotina, instalou monitoramento, cerca elétrica na sua”, diz o advogado Pedro Iokoi.
E as ameaças continuaram: ainda em janeiro de 2012, outro funcionário do setor financeiro recebeu intimidações para pedir demissão. Os ataques atingiram até familiares dos empregados. A mulher de um deles teve o carro incendiado na escola onde trabalhava.
Em outra ação, um empregado foi rendido quando saía de casa. Os criminosos trancaram a mulher dele no banheiro e o agrediram também com ameaças para que ele deixasse a empresa. Na saída, levaram um celular e um computador. Foi o terceiro funcionário a pedir demissão.
Na semana seguinte, uma funcionária foi sequestrada por dois homens, que ficaram rondando com ela no carro enquanto perguntavam detalhes sobre a rotina do escritório. Depois, eles desceram do carro com a vítima, renderam empregados e atearam fogo nos computadores.
A última ação também foi registrada pelas câmeras de segurança. Dois homens aproveitaram a chegada de duas funcionárias para entrar no prédio. Eles anunciaram o assalto e mandaram todo mundo deitar no chão. Aproveitando o descuido dos criminosos, uma vítima se levanta, sai correndo e avisa a segurança. Um outro funcionário também tenta fugir, mas é impedido pelo bandido. Na sequência, os assaltantes fazem as vítimas irem em fila para uma sala. Os bandidos vão embora levando celulares e computadores. Na saída, foram surpreendidos pelos seguranças.
Sergio Rodrigues da Silva e William Morelli Mariano foram presos. Depois de sete meses de investigação, os promotores ficaram surpresos com o resultado: o mesmo sócio que fez as denúncias dos ataques é acusado de ser o mandante dos crimes. Azael Manzoni Júnior é um dos donos da fábrica de ração e foi denunciado pelo Ministério Público. Ele próprio tinha procurado os promotores para relatar os ataques.
“Ele relatou os atentados que já haviam acontecido até aquela ocasião e trazia já uma versão de que essas ações criminosas seriam decorrentes de uma vingança praticada por alguns funcionários que teriam sido demitidos no passado”, diz o promotor Amauri Silveira Filho.
Azael Manzoni Júnior ficou preso durante 30 dias e agora responde em liberdade pelos crimes de roubo, incêndio, ameaça, lesão corporal, constrangimento ilegal, receptação, disparo de arma de fogo e formação de quadrilha.
Segundo o promotor, ele tinha dois objetivos: esconder um esquema de sonegação fiscal e desvio de dinheiro e desvalorizar a empresa para comprar a parte dos sócios. “O objetivo era, como dito, apagar os rastros do desvio de cheques que vinha sendo efetuado dentro do grupo empresarial e talvez forçar os demais sócios a entregar sua parte no negócio”, conta Amauri Silveira Filho.
O Fantástico procurou o empresário no condomínio onde mora, mas ele não quis gravar entrevista. “Eu estou muito abalado com essa história, mas eu gostaria, sim, se você pudesse procurar o meu advogado”, diz Azael.
Para o advogado Ralph Tórtima Stettinger Filho, Azael não tem ligação com os crimes. “Ele é absolutamente inocente. Eu vejo como uma denúncia esdrúxula, precipitada, que existiu sem que as investigações estivessem concluídas. Para mim, ela representa um grande erro judicial”, afirma.
O advogado também negou que houvesse sonegação fiscal na empresa: “De forma alguma. Tanto assim que ele estava interessado na descoberta, foi atrás de empresas de auditoria para que esses fatos viessem à clara”.
Segundo o Ministério Público, Azael agia junto com Silvana de Carvalho da Silva, que também trabalhava no setor financeiro. Para executar os ataques, Silvana procurou uma prima, Fabiana Hizatsuki, e o marido dela, Jaime José da Silva, que fizeram contato com Sérgio e William, presos no último assalto. Com exceção do empresário, estão todos presos. O advogado de Jaime e Fabiana não quis gravar entrevista. Por email, o advogado de Silvana disse que não iria se manifestar. Os defensores de Sérgio e William não foram encontrados.
O advogado do sócio de Azael não esconde a surpresa com o desfecho do caso. “Acho que surpreende toda a sociedade de ver uma pessoa cometer uma dezena de ataques contra a própria empresa. Acho que a história é uma história de filme”, diz Pedro Iokoi
intimidações, roubos violentos, incêndios e até um buquê de flores com ameaças de morte! Quem estaria por trás desses atentados?
Um assalto com reféns, um incêndio, uma mulher sequestrada e todo o tipo de ameaça, incluindo um bilhete assustador enviado com um buquê de flores. O cenário de todos esses crimes é uma indústria de rações na cidade de Campinas, a 93 quilômetros de São Paulo.
“Cada uma das ações foi minuciosamente planejada”, afirma o promotor Amauri Silveira Filho.
O primeiro crime aconteceu em setembro do ano passado. Um funcionário responsável pelo setor financeiro foi rendido no portão da fábrica. Os assaltantes entraram e levaram um computador, 13 celulares e documentos.
Dias depois, uma funcionária, também da área financeira, recebeu no trabalho um buquê de flores com um CD. Nele, encontrou imagens de mulheres mortas, uma foto com os documentos levados no roubo anterior e um bilhete que dizia: “Você vai ficar assim! Você vai morrer!”. Assustada, ela pediu demissão.
Três meses depois, mais um crime: um responsável pela contabilidade foi atacado no carro. O assaltante levou apenas as chaves.
O grupo acusado de cometer os crimes se reunia em um bairro de Campinas. Lá, eles escolhiam o alvo e planejavam com antecedência cada detalhe dos ataques.
No Natal, três homens entraram na sede da empresa durante a madrugada. Em poucos minutos, um deles volta correndo em direção ao portão. Dois segundos depois, as chamas. E do lado de fora, os três homens fogem. O fogo consumiu móveis e computadores. Nada foi roubado.
No começo do ano, um funcionário que já tinha sido vítima de um roubo na empresa foi abordado em casa por dois homens. Eles fizeram ameaças e levaram uma pasta com cheques da indústria, dinheiro e um telefone.
No dia seguinte, dois homens entraram na casa de outro empregado. Um vizinho chamou a polícia e eles foram embora, mas voltaram dois dias depois e fizeram ameaças pelo interfone. Disseram que ele seria assassinado se continuasse na empresa. Deram vários tiros nos carros que estavam na garagem. Ele também pediu demissão.
O advogado de um dos sócios diz que o clima na empresa era de medo. “O meu cliente ficou efetivamente muito apavorado, passou até por mudanças de trajetos, de rotina, instalou monitoramento, cerca elétrica na sua”, diz o advogado Pedro Iokoi.
E as ameaças continuaram: ainda em janeiro de 2012, outro funcionário do setor financeiro recebeu intimidações para pedir demissão. Os ataques atingiram até familiares dos empregados. A mulher de um deles teve o carro incendiado na escola onde trabalhava.
Em outra ação, um empregado foi rendido quando saía de casa. Os criminosos trancaram a mulher dele no banheiro e o agrediram também com ameaças para que ele deixasse a empresa. Na saída, levaram um celular e um computador. Foi o terceiro funcionário a pedir demissão.
Na semana seguinte, uma funcionária foi sequestrada por dois homens, que ficaram rondando com ela no carro enquanto perguntavam detalhes sobre a rotina do escritório. Depois, eles desceram do carro com a vítima, renderam empregados e atearam fogo nos computadores.
A última ação também foi registrada pelas câmeras de segurança. Dois homens aproveitaram a chegada de duas funcionárias para entrar no prédio. Eles anunciaram o assalto e mandaram todo mundo deitar no chão. Aproveitando o descuido dos criminosos, uma vítima se levanta, sai correndo e avisa a segurança. Um outro funcionário também tenta fugir, mas é impedido pelo bandido. Na sequência, os assaltantes fazem as vítimas irem em fila para uma sala. Os bandidos vão embora levando celulares e computadores. Na saída, foram surpreendidos pelos seguranças.
Sergio Rodrigues da Silva e William Morelli Mariano foram presos. Depois de sete meses de investigação, os promotores ficaram surpresos com o resultado: o mesmo sócio que fez as denúncias dos ataques é acusado de ser o mandante dos crimes. Azael Manzoni Júnior é um dos donos da fábrica de ração e foi denunciado pelo Ministério Público. Ele próprio tinha procurado os promotores para relatar os ataques.
“Ele relatou os atentados que já haviam acontecido até aquela ocasião e trazia já uma versão de que essas ações criminosas seriam decorrentes de uma vingança praticada por alguns funcionários que teriam sido demitidos no passado”, diz o promotor Amauri Silveira Filho.
Azael Manzoni Júnior ficou preso durante 30 dias e agora responde em liberdade pelos crimes de roubo, incêndio, ameaça, lesão corporal, constrangimento ilegal, receptação, disparo de arma de fogo e formação de quadrilha.
Segundo o promotor, ele tinha dois objetivos: esconder um esquema de sonegação fiscal e desvio de dinheiro e desvalorizar a empresa para comprar a parte dos sócios. “O objetivo era, como dito, apagar os rastros do desvio de cheques que vinha sendo efetuado dentro do grupo empresarial e talvez forçar os demais sócios a entregar sua parte no negócio”, conta Amauri Silveira Filho.
O Fantástico procurou o empresário no condomínio onde mora, mas ele não quis gravar entrevista. “Eu estou muito abalado com essa história, mas eu gostaria, sim, se você pudesse procurar o meu advogado”, diz Azael.
Para o advogado Ralph Tórtima Stettinger Filho, Azael não tem ligação com os crimes. “Ele é absolutamente inocente. Eu vejo como uma denúncia esdrúxula, precipitada, que existiu sem que as investigações estivessem concluídas. Para mim, ela representa um grande erro judicial”, afirma.
O advogado também negou que houvesse sonegação fiscal na empresa: “De forma alguma. Tanto assim que ele estava interessado na descoberta, foi atrás de empresas de auditoria para que esses fatos viessem à clara”.
Segundo o Ministério Público, Azael agia junto com Silvana de Carvalho da Silva, que também trabalhava no setor financeiro. Para executar os ataques, Silvana procurou uma prima, Fabiana Hizatsuki, e o marido dela, Jaime José da Silva, que fizeram contato com Sérgio e William, presos no último assalto. Com exceção do empresário, estão todos presos. O advogado de Jaime e Fabiana não quis gravar entrevista. Por email, o advogado de Silvana disse que não iria se manifestar. Os defensores de Sérgio e William não foram encontrados.
O advogado do sócio de Azael não esconde a surpresa com o desfecho do caso. “Acho que surpreende toda a sociedade de ver uma pessoa cometer uma dezena de ataques contra a própria empresa. Acho que a história é uma história de filme”, diz Pedro Iokoi
FONTE: GLOBO.COM E FANTÁSTICO DA TV GLOBO
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