Seguidores

terça-feira, 4 de outubro de 2011

TEXTO DE AUTORIA DE JOSÉ FERNANDES COSTA DATADO DE 14-04-2008, PARA O SENHOR FRANCISCO CUNHA

Recife ou o Recife       - Por quê?

Senhor Francisco       Cunha,

Por       acaso, chegou às minhas mãos seu artigo "Não deixe ninguém       dizer 'de' Recife" (Revista Algo       Mais). - O título e o artigo,       em si, são muito preconceituosos. Verdadeiro patrulhamento aos       falantes e a quem escreve. Agride a Lingüística e fere a gramática.       Mais ainda: é arrogante!

Onde fica a liberdade das       pessoas que se expressam sem ferir conceitos de quem quer que       seja? Onde está o respeito devido à linguagem? Você, que escreve, tem       obrigação de conhecer gramáticas, dicionários etc.

Essa estória de dizer       "o       Recife, do Recife, para o Recife" é pura bobagem. Melhor dizendo:       é grande bobagem bairrista e machista. Por       essa mesma razão é que aqui em Recife não se diz nem se       escreve: a grande Recife, na grande Recife, da       grande Recife, como se diz e escreve a       grande Belo Horizonte, a grande Porto Alegre, a grande São Paulo, a       grande Salvador. - A       grande Recife é a região que fica no entorno de       Recife. Mas aqui se diz e escreve       "o       grande Recife"       (?).

E você ainda desconhece a       liberdade poética, que não obedece a rigores. Esse seu desconhecimento       comprometedor fica claro quando você se refere ao samba-enredo       da Mangueira. E como  você desconhece gramática, grafou       samba-enredo       fora do padrão da norma-padrão. - (Grafou       semhífen).

E você       se mostra pretensioso ao dizer que “O       CERTO é‘o’       Recife, ‘do’ Recife e ‘para o’ Recife”. –  Onde você foi buscar essa convicção       de que “O       CERTO É?” – Onde está o embasamento       DO       CERTO e DO       NUNCA a que       você se refere?

Coincidente e       acertadamente, na página 56 do Caderno de Empregos do       Jornal do Commercio de 13.4.2008, há uma notícia que começa assim:       "Recife       vai sediar o 5º Congresso..."

Só porque       Recife ter-se-ia originado de um acidente geográfico exige o       artigo definido? - Essa história de que é o Recife, por       ser topônimo é a argumentação de outros que defendem a sua idéia. -       Isso é muita pretensão. - O Brasil não se originou de acidente       geográfico. Mas requer o artigo definido.

As palavras de Gilberto Freyre       bem demonstram o bairrismo enraizado, para forçar o povo a dizer e       escrever “o       Recife, do Recife etc.” –  Releia o que você transcreveu de       Gilberto Freyre. Que quer dizer ele com essa "cidade       brasileira ciosa de suas tradições e de suas responsabilidades atuais e       futuras?” - Sei       que ele foi preconceituoso ao desprezar a cultura e as tradições das       outras cidades brasileiras. – Salvador, Porto Alegre, Natal e o Rio       de Janeiro, entre outras, por que razão seriam menos importantes do       que Recife, na história de cada uma delas?

A meu ver isso é julgamento em       benefício próprio. Por que discriminar as demais       cidades, querendo que Recife seja a senhora das senhoras? -       E por falar você em tantos       poetas que cantaram "o       Recife", volto       a lhe lembrar da liberdade de que gozam os poetas. E que       você solenemente desconhece.

Há nomes próprios de lugares que       exigem o artigo definido: a Dinamarca, a França, a Bahia, o Porto, a Bélgica, o Cairo etc.       -Assim como há os que não aceitam       esse artigo: Roma, Brasília, Viena, Salvador, Curitiba, São Paulo,       Vitória etc.

SegundoDomingos       Paschoal Cegalla, alguns poucos nomes próprios       geográficos se usam,  indiferentemente, com o artigo ou       sem ele. E       nesses poucos ele inclui Recife. Para Cegalla, tanto se pode       dizer       Recife,       como o       Recife. -  Mas ouso discordar       de Cagalla. - Mais adiante veremos por quê.

De outro modo, Francisco       Platão Saviolli, afirma:       - "Não se usa artigo antes de nomes de cidade, a menos que       venham modificadas por palavras adjetivas ou expressões       equivalentes": - A bela Paris, a       velha Roma, a Lisboa dos fados, a histórica Salvador etc. -       Mas existem exceções. E       Saviolli deveria ter dito quais são       elas. - Vejam: dizemos o Rio       de Janeiro, do Rio de Janeiro,       para o Rio de Janeiro. Pela mesma razão que dizemos o Porto e o       Cairo.

Outros       autores: - Douglas       Tufano diz:       - De modo geral NÃO se usa artigo definido ANTES de nome de       cidades, a não ser que venham modificados: - “Estou em Roma;       estive na bela Roma. Fui a (preposição) Londres; revi a antiga       Londres."

Evanildo       Bechara - O       artigo costuma aparecer ao lado de certos nomes próprios geográficos,       principalmente       os que denotam países, oceanos, rios montanhas, ilhas. - Ex.       – A Suécia, o Atlântico, o Amazonas, os Andes, a       Groelândia.

NOTA: Recife sempre se disse       acompanhada de artigo.Mas       modernamente,       pode-se DISPENSÁ-LO. –       (A nota é de       Bechara; o grifo é meu.)

Quanto às cidades, geralmente       PRESCINDE do artigo. Há, contudo, exceções devidas à influência de seu       primitivo valor de substantivo comum: o Rio de Janeiro, o Porto, etc. –       Continuando a prática de outros idiomas que, por sua vez, se inspiram no       árabe el-Kahira (a vitoriosa), dizemos com artigo o       Cairo.

Agora, vejamos o que diz       Napoleão       Mendes de Almeida: - "Nomes de cidades são, em       português, femininos, e quando desacompanhados de adjunto adnominal,       emprega-se SEM artigo: Estive em Londres; Londres é tranqüilA. Vim de       Paris; Paris é silenciosA. Cheguei a Porto Alegre; Porto Alegre é       dinâmicA, mas São Paulo é barulhentA."

(Eu acrescento: Recife é sujA. E       Salvador também é sujA.)

Prossigamos com Napoleão       Mendes de Almeida: - "São exceções Cairo,       Porto, Rio de Janeiro, nomes estes masculinos que sempre se acompanham do       artigo: estive no Cairo; vinha do Porto; o Rio de Janeiro é maravilhosO.       Cairo sempre se usou em árabe com o artigo. Rio de Janeiro e Porto, a       princípio simples rio, simples porto; construíram-se casas à beira do       rio, ao lado do porto, SEM destruir o artigo."

"Já com       Recife, a princípio o       recife, deu-se o mesmo que com as       minas gerais, com as alagoas (estados), que hoje se denominam Minas       Gerais, Alagoas, sem o artigo."

E ainda diz Mendes de       Almeida: - "Se a cidade de Pernambuco nasceu num recife, o recife é       precisamente essa parte inicial, e o Recife é o nome desse bairro de       Recife, conforme se vê em planta da cidade. Não estranhe o leitor       que       em Recife alguém lhe diga: 'Preciso ir ao       Recife pagar uma conta'. Porque está ele, o falante, a se referir à parte       antiga da cidade, ao bairro do Recife, onde se encontram as docas,       importantes repartições de serviços públicos e grandes escritórios."      

Mais: - "E       quando em Recife diz alguém: 'dentro do       Recife', ele está a especificar        mais pormenorizadamente ainda o Recife (bairro), pois com essa expressão       ele passa a se referir à zona do meretrício de       Recife."

"Isso lá em       Recife, onde a       distinção ou distinções têm significado. Não sendo esse o caso, é querer       fazer voltar o tempo, é proceder como os baianos na Ortografia, que       repudiaram o h de Christo e fizeram       ressuscitar o hde Bahia, por amor à tradição; é agir como os mineiros de Campanha, que       dizem: 'Estive na Campanha', mas,       esquecendo-se do artigo, constroem: 'Preciso voltar logo para       Campanha"'.

"São Paulo é mais modesto: -       Campos do Jordão há muito deixou de ser 'os Campos do Jordão'. – Campos do       Jordão, Campinas, Ribeirão Preto e outros nomes de cidades nossas perderam       gênero e números próprios; são femininos e empregam-se sem       artigo."

"Ao chamar       hoje Recife de "o Recife", não há tradição. A tradição é a que por nós foi testemunhada quando aí       estivemos. Veja-se para confirmação, a       fotografia que se encontra na página 51       do Guia prático, histórico e sentimental de Recife, de GilbertoFreyre, embaixo da qual está escrito:'... ao pé de uma ponte que liga o bairro de       Santo Antônio ao do Recife'". – “Aí está: - O Recife é bairro de       Recife.” – (Contradições do próprio Gilberto Freyre, digo       eu.)

"É de admirar, pois, que       esse mesmo autor em outro livro declare: - 'Todo bom recifense       diz o Recife e não Recife"'. –

Então,       pergunto: essa bobagem vale só para os recifenses? – É o que se depreende dos       dizeres de Gilberto Freyre.

Outro autor que se atrapalha com       o gênero da palavra é Josué de Castro, quando em Ensaios de Geografia       Humana, diz: - "... de baía       entulhada do Recife" (com artigo), ao lado       de: "Recife, nos primeiros anos de ocupação holandesa..." - (Sem artigo.) – Creio       que Josué de Castro se referiu ao bairro do Recife (Recife       velho.)

"A verdade transparece clara: o       Recife continua sendo o Recife, não a cidade. Por 'o Recife' entende-se um       único sítio, se considerado nos primeiros anos de sua vida, de sua       formação mental, de suas primeiras experiências literárias. Outro é o       tempo em que vivemos, que não aceita como prova de patriotismo um       h       dentro do nome       de um estado; ou como prova de virilidade a volta do gênero masculino       do nome de uma cidade."

"Não há nesse proceder nem       casticismo lingüístico, nem patriotismo brasílico, nem prova de       masculinidade, senão mero capricho acobertado pela dialética       acadêmica."

E assim       concluiu Napoleão Mendes de Almeida: - "Nada perde ela, Recife, de       cultura, de vigor literário, nem de ternura, de fascínio, de       apreço, de romantismo, nem de tradição com ser chamada, na sua       totalidade acolhedora, simplesmente Recife. –       Recife é a cidade; o Recife é o bairro." -       (Grifos meus).

Deixo aqui a palavra dos       estudiosos da língua. Não são palavras minhas. E, para seu conhecimento,       senhor Francisco, nem você, nem ninguém pode impedir-me de dizer Recife (sem artigo), como       sempre disse e continuarei dizendo./.

Cordialmente,

José Fernandes Costa
Casa Forte –       Recife
jfc1937@Yahoo.com.br

Fonte:
E-mail de ZÉ FERNANDES  

Nenhum comentário:

Postar um comentário